Uma coisa que eu tenho visto como interessante na perfumaria contemporânea é a leve barreira que separa um perfume exclusivo de um perfume comercial. Com as marcas cada vez mais focadas no lucro e retorno rápido o investimento tem sido em atingir uma base cada vez maior de consumidores em vez de trabalhar progressivamente e criar a fidelidade, trazendo algo novo ao público. Com isso, a diferença mais gritante entre um perfume de massa e um perfume de luxo tem sido mais a construção da imagem e da percepção ao redor do mesmo, com as diferenças na fórmula ficando em segundo plano como um acessório.
A Joalheria Tiffany possuía um catálogo de fragrâncias clássicas e sofisticadas até o momento que ela foi comprada pela LVMH. Após isso a marca passou apenas a ser mais uma no portfólio da LVMH e o conceito do que é luxo em termos de fragrâncias banalizou, aproximando-se da ideia distorcida das massas do que é um perfume sofisticado e com cheiro de "gente rica". Basicamente cheirar a rico hoje é ter um aroma limpo, redondo e inofensivo, como se ser desprovido de personalidade e autenticidade fosse sinônimo de riqueza quando de fato ela está é mais para uma pobreza de criatividade, essência e bom gosto.
Todo o cuidado com caixa, embalagem e apresentação de Rose & Gold se traduz em um perfume floral frutal que parece uma versão mais aguada da mesma ideia presente no perfume feminino Humor 1 da Natura, apenas com uma performance que não decepciona. A nota de cassis da saída é desprovida de personalidade, sendo verde a ácida a ponto de não incomodar ninguém. A rosa do corpo da fragrância é uma rosa comum, fresca e com o ar de limpeza que é fácil de agradar a uma primeira cheirada. A base oferece um blend de musk, ambrette e um toque levemente vanílico e discretamente açúcarado. É tudo muito agradável, redondo e bem esquecível. É o tipo de riqueza medíocre e superficial que tem se tornado cada vez mais comum e aceita, o que me mostra o como as pessoas estão perdendo a capacidade de realmente apreciar a entender o verdadeiro luxo. O cheiro da riqueza nada mais é hoje do que a pobreza sanitizada e ostentada por meio de nomes de luxo.
