11 de jan. de 2016

Cartier Déclaration - Avaliação


 
Déclaration é um dos poucos casos recentes de um clássico moderno, influente tanto na carreira de Jean Claude Ellena como na história da Cartier e da Perfumaria masculina como um todo. Os momentos de nascimento de um perfume que se torna um divisor de águas e um benchmarking para outros lançamentos já são raros na perfumaria feminina e ainda mais na masculina e ao cheirar Déclaration tive certeza de estar diante de um desses momentos.

Essa obra do aclamado perfumista é como um ode e monumento a transparência e minimalismo, um estilo que ele desenvolveria mais profundamente na Hermès (e infelizmente às vezes de forma automática e sem muitas surpresas). Apesar de 1998 já estar no final da década marcada pelos perfumes aquáticos, em Déclaration Ellena parece pegar emprestado o efeito cristalino e duradouro de seus aromas evoluindo-o em uma direção mais mineral e amadeirada - que ele continuaria a trabalhar sob uma outra perspectiva em Terre d'Hermès.

Certamente um dos grandes responsáveis por essa efeito cristalino, duradouro, mineral e amadeirado é um sintético que hoje conhecemos bem e que aparece frequentemente em quase tudo que possa ter cheiro: Iso E Super. Ele funciona como uma espécie de lâmpada e aí difere de um óleo essencial natural, que em altas dosagens pode funcionar (ainda mais para madeiras) como um sol, onde perto demais cega todo o resto no qual ele projeta sua luz. O Iso E Super não, sua luz se espalha e se mistura com o ambiente, iluminando a tonalidade macia dos musks, a nuance terrosa e com leves tons de couro do acorde de iris e o efeito levemente chipre do musgo de carvalho. Ele também complementa perfeitamente o toque carnal de cominho e das notas cítricas que remetem a limão.

Como uma máquina de um design polido e sem muitos exageros, apenas toques de cada uma das essências são iluminadas ao redor do Iso E Super. Cria-se assim uma aura perfumada, madura e que se mantém projetando por um bom tempo na pele (e um tempo mais longo ainda no tecido). Isso certamente ajudou a trazer o estilo amadeirado contemporâneo que vemos surgir em criações como Terre, Encre Noire, St Dupont Pour Homme. E também foi um primeiro passo para a transformação da perfumaria da Cartier do estilo clássico para uma elegância contemporânea que tem sido bem explorada nas mãos da perfumista Mathilde Laurent. Sua Declaração hoje certamente já é um grande legado.

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