Agradecimento especial à Kenia Ferreira, que me enviou uma amostra dessa fragrância e me apresentou a marca. Encomendas podem ser feitas com ela pelo instagram:
Acredito que bem poucos sabem da verdadeira história da Clive Christian na perfumaria. A marca não é realmente centenária como conta, ainda que de fato seja de certa maneira centenária. Ela apenas evidencia o lado mais comercial/administrativo do mundo das fragrâncias.
A Clive Christian era uma firma que originalmente criava cozinhas e interiores de luxo. Em 1999 a marca viu a oportunidade de expandir para o mundo da perfumaria ao adquirir a centenária The Crown Perfumery. A princípio a marca foi mantida e com o nome e frasco original e uma fragrância foi criada para homenagear o ano de criação da Crown Perfumery. Porém pouco tempo depois o que sobrou da marca original foi apenas o formato do frasco e o marketing da tradição.
Clive Christian 1872 Women aponta para o que poderia ter sido um futuro promissor na perfumaria de luxo se a Clive Christian tivesse visto tal negócio com uma visão realmente artística e singular. Mas ao mesmo tempo 1872 Women já apontava para o que seria um dos maiores problemas da marca: a ausência de identidade e originalidade, o luxo criado de maneira meramente artificial, apenas pelo preço, pelos ingredientes ou pela narrativa pomposa.
Eu vejo que 1872 Women trabalha no limite da sofisticação e da originalidade. De maneira geral sua fragrância não tem nada que realmente remeta a um perfume vintage complexo. Mas ao mesmo tempo seu aroma fresco, floral e levemente amadeirado é executado de maneira impecável e é um dos melhores a transmitir uma elegância e sofisticação que não parece artificial. A saída é uma agradável mistura de cítricos e toques levemente frutados que conduzem a um coração floral. Nele temos uma violeta fresca, e úmida cercada de flores com nuances verdes e primaveris, um tipo de acorde floral que é até comum porém difícil de ser executado com a naturalidade necessária se não tivermos orçamento na fórmula. E por fim a fragrância acaba em uma confortável base onde musk e notas amadeiradas aveludadas e cremosas são combinadas a um leve toque de musgo e patchouli, estes tentando conferir uma nuance mais clássica a fórmula porém sem muito espaço para isso.
De maneira geral eu vejo ambiguidade no aroma de Clive Christian 1872 Women, mas não deixa de ser um reflexo do que sempre vi na marca. 1872 Apontava para uma tentativa de tornar luxuoso algo clássico e do passado, porém sem uma visão muito clara de como realmente vender essa proposta. E isso fica bem evidente quando se olha a maneira como a marca foi administrada ao longo dos anos: 80 perfumes lançados em menos de 20 anos e 3 mudanças de dono se considerarmos a primeira venda da Royal Crown para a Clive Christian. O que parecia um começo promissor em 1872 Women mostrou-se um caminho sem muito sucesso administrativo, criativo e comercial.

