Agradecimento especial à Kenia Ferreira, que me enviou uma amostra dessa fragrância e me apresentou a marca. Encomendas podem ser feitas com ela pelo instagram:
Introdução
Alguns perfumes e algumas marcas são como livros de histórias de mistérios, escondendo por trás de singelos títulos informações bem interessantes que conduzem a uma narrativa satisfatória. Eric Buterbaugh certamente é um desses casos, principalmente se você não está inserido no mundo da moda (meu caso). Digo isso pois Eric Buterbaugh é simultâneamente uma marca de celebridade e de nicho, provando o como as diferentes bolhas/categorias da perfumaria começaram a se combinar ao longo dos anos.
Quem é Eric Buterbaugh?
Como isso é possível? Só buscando mais sobre a história de Eric Buterbaugh para entender. Temos aqui uma pessoa talentosa e de carreira diversificada. Eric Buterbaugh foi um designer de moda que começou sua carreira como representante de uma marca exclusiva do Texas. Quando tal loja faliu Eric acabou indo trabalhar com Gianni Versace, depois com Valentino e por último com o designer de jóias Theo Fennel.
E o que as flores tem a ver com Eric? Bem, aí entramos na segunda fase de sua carreira. Em 1999 Eric Buterbaugh se reinventou como um florista da alta sociedade e virou uma celebridade das celebridades devido aos seus opulentos arranjos florais. Eric já teve clientes como Madonna, Dior, Valentino, Louis Vuitton, Chanel, Cartier, a família real, Salma Hayek, entre outros. Isso apenas para mostrar o como Eric se tornou conhecido com seus arranjos florais.
Somente 15 Anos depois é que então entramos no que realmente nos interessa, os perfumes. Em 2014 o famoso florista e estilista foi apresentado ao executivo de fragrâncias Fabrice Croisé, que trabalhou anos com a Loreal e a Agência de Marketing Select World. Juntos eles criaram a EB Florals, voltada exclusivamente em trazer a extravagância dos arranjos florais de Eric Buterbaugh para o mundo dos perfumes. Certamente uma junção de mundos perfeita, um nicho ideal de ser explorado.
O Crime da Dália Negra (1947) e a Misteriosa Flor
Sabendo da primeira parte de nosso mistério, entramos na segunda: 1947 Dahlia. A escolha do nome não poderia ser mais perfeita, já que não há nenhuma referência de data de lançamento para essa fragrância, fazendo de sua existência um mistério tão grande quanto o assassinato nunca solucionado de Elizabeth Short em 1947. O misterioso assassinato ficou conhecido como o assassinato da Dahlia Negra devido ao intenso cabelo negro e roupa negra da atriz.
Mas a própria flor Dália é um grande mistério. Procure por dados a respeito de sua fragrância e pouco será encontrado. Descobre-se que as Dálias são um gênero de flores nativas do México e da América central. Foram nomeadas em 1791 por um botanico espanhol chamado José Cavanilles, que homenageou um colega de profissão Anders Dahl, esse por sua vez pupilo do real descobridor das flores no México 1788. Buscando pelo sobrenome Dahl descobre-se que sua etimologia está relacionada a valles, o que me parece realmente apropriado para um gênero de flores. Porém há poucas informações sobre o aroma das dálias na internet, tornando sua fragrância para mim um mistério tão grande quanto o da atriz.
O Aroma de Dahlia 1947
Dahlia 1947 nos oferece uma fragrância narcótico e misteriosa, frondosa como as flores e trazendo a sedução de um floral antigo, reinterpretado com a qualidade dos materiais modernos. De acordo com um amigo que conhece o aroma das Dálias, seu cheiro captura perfeitamente a flor, mas como eu as desconheço terei que aceitar suas palavras. Mesmo não as conhecendo é possível apreciar sua fragrância: a saída nos brinda com um frescor floral levemente atalcadoe apimentado. Conforme evolui temos o aroma narcótico do jasmim combinado ao cheiro tropical do ylang-ylang e ao aroma amendoado e atalcado das flores de heliotropo.A peônia finaliza acrescentando um toque fresco e que remete a rosa. Como um bouquê bem composto, as flores são orquestradas de maneira abstrata para que capturam o glamour antigo e tragam o cheiro da misteriosa flor.
É na base que temos o caráter moderno dessa composição. Em vez de termos um aroma chypre complexo ou um oriental opulento Dahlia 1947 termina de maneira aveludada e minimalista, como um pedestal que segura a verdadeira estrela, as flores. Temos o aroma aveludade do cashmere combinado com uma cremosidade de baunilha e um toque amadeirado de sândalo. Tal evolução cria um aspecto intimista e segunda pele, mas a atenção e sedução é dada as misteriosas e frondosas flores. Dahlia 1947 é um exercício bem sucedido de narrativa olfativa contada por uma celebridade tão única que em vez de ter apelo de massa foi direto para a perfumaria de nicho. Isso sim é uma boa história a ser contada.
