Alguns perfumes criam uma
estrutura olfativa tão impactante e uma imagem tão bem executada que ao serem
sentidos é criado uma memória olfativa marcante ao redor dele. O mesmo acontece
com algumas pessoas, com histórias e vidas tão intensas que não esquecemos
delas e até possível criar uma memória olfativa para elas mesmo que não
tenhamos vivido aquele momento e perfume com aquela pessoa.
Eu conheci virtualmente o Cassiano no começo da
minha jornada de perfumaria, nos grupos do orkut. Compartilhávamos essa grande
paixão e essa foi uma época onde muito se aprendia e compartilhava por meio
dessa grande novidade que eram as redes sociais. Elas aproximavam pessoas
distantes fisicamente, criavam contatos que de outra forma seriam impossíveis e
permitiam a aproximação ao redor de paixões em comum e até mesmo a troca de
experiências e amostras devido a essas paixões.
Quando o Cassiano veio morar em São Paulo tive a
chance de enfim conhecê-lo pessoalmente e de me aproximar de um conhecido de
longa data. E tive a chance de conhecer mais de sua história quando pude
conhecer sua coleção. De todos os perfumes que ele me mostrou, um ficou
associado a ele para sempre: Davidoff Zino.
Zino Davidoff é uma fragrância clássica de 1988 e
que por muito tempo não foi muito falada, mas se minha memória não me prega
peças foi um perfume importante para o Cassiano, um perfume que marcou sua vida
pessoal, um momento onde meu amigo teve acesso a algo clássico e de altíssima
qualidade e isso se tornou parte de quem ele era. Seu aroma reflete bem a
natureza refinada e multifacetada do Cassiano e sua riqueza de conhecimento na
perfumaria, com madeiras e elementos orientais em contraste com uma
sensualidade floral velada, uma delicadeza quase que não admitida. Toda vez que
penso em Zino me sinto como se entrando nessa memória, nesse momento de
conquista e classe, mesmo que ele nunca tenha sido meu. E foi o perfume que
tornou físico e corpóreo o que por muitos anos existiu de maneira abstrata
apenas pelas redes sociais.
