5 de abr. de 2023

Memória Olfativa - Dunhill Desire Red

 

Essa é uma memória olfativa sem uma foto específica para ela. E também não é uma memória olfativa de um grande momento de minha vida, nem de um amigo querido ou pessoa importante na minha jornada. Mas ela representa algo que muitas vezes perdi ao longo desses anos e que é extremamente valioso: a alegria pura e simples que podemos sentir nos pequenos prazeres da vida.

No meu caso, essa alegria vem da misteriosa felicidade líquida existente dentro dos frascos de perfumes. Dos perfumes onde menos esperamos, nos momentos onde menos esperamos. Como é o caso de Desire Red, de Alfred Dunhill. O conheci em torno dos meus 19-20 anos, quando estava na faculdade e tinha começado o meu primeiro estágio. Recebi uma amostra generosa de um amigo e um dia ao sair do estágio resolvi aplicar ele na pele e sentir seu cheiro enquanto caminhava em direção à estação.

E me lembro até hoje de quão agradável era esse aroma que em vez de me despertar o lado carnal me fez sentir um júbilo quotidiano inesperado. Um frescor frutal alegre, um pouquinho de flores, uma maciez amadeirada gourmand. Um aroma do qual especulo as nuances mas que me lembro mesmo como ensolarado, agradável e feliz. Uma felicidade simples presente num momento corriqueiro e que ficaria como uma memória olfativa preciosa para mim até hoje. Uma memória olfativa sem muitas palavras, sem muitas nuances, mas com um sentimento tão intenso que sou capaz de revive-lo ao pensar nele.

Momentos assim simplesmente surgem, quando menos esperamos, nos locais (e frascos) onde sequer imaginaríamos. De fato são momentos cobiçados, mas que podem até mesmo passar batidos quando não estamos mais presentes para apreciar o que temos no momento presente. Os melhores perfumes não estão, como diriam, nos menores frascos, e sim nos momentos onde somos capazes de aproveitá-los de maneira pura e simples. Mesmo que seja no final de um dia de trabalho indo para a estação de trem a caminho da faculdade.